sexta-feira, 27 de março de 2009

 Enquanto amanhece, mantenho-me sentado junto à janela, observando os aviões aproximarem-se do seu destino. Desconheço de onde vêm, sitios longinquos é certo, mas que se tornaram perto através daqueles monstros de asas que a cada três minutos passam exactamente por cima da minha cabeça. Impressiona a sucessão de aviões que aterram em Lisboa a esta hora. A grande cidade entreterá os milhares de passageiros que estes transportam. Penso na excitação que muitos deles trazem consigo ao chegar a uma nova cidade. Aquela excitação que sentimos quando viajamos para um sitio desconhecido... saudades dessa sensação! 
 Relembro o meu sonho antigo de emigrar para um país do centro da Europa, e a partir de lá, ganhar dinheiro para viajar para outros países. Tudo de forma periódica, um plano perfeito para conhecer a Europa em 3 ou 4 anos. Aqui em Portugal, com o ordenado miserável que me pagam para fazer o que faço, demorarei provavelmente décadas para o cumprir, se é que alguma vez conseguirei cumpri-lo. Noutro país, trabalhando as mesmas horas que trabalho aqui, pagariam-me até cinco vezes mais do que aquilo que ganho actualmente. Para além da experiência de viver noutro país, com pessoas diferentes, de gostos e ideias diferentes. Aprenderia uma outra lingua, conheceria novos sabores, novos hábitos, outros ideais... mas afinal, o que é que me prende a esta cadeira? Será o amor, a família, os amigos, a casa nova, o emprego precário, o medo de partir e deixar para trás o pouco que ainda construí. A minha vida. Razão suficiente para me manter aqui sentado junto à janela da minha casa, a ver os aviões chegarem, com a esperança de um dia, ter coragem para me levantar e sair sem dia para voltar. Talvez um dia, talvez noutra vida.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Utopia.

O tempo passa e eu vivo numa absurda ilusão, a fazer projectos que nunca irei realizar, a traçar objectivos, a viver em sonhos que nunca deixarão de o ser. O eterno problema de quem quer viver tudo menos a sua verdadeira vida.
Ingenuamente, acho que não é mais do que o desejo de experimentar, de ter, de fazer, de conhecer... o normal de qualquer jovem que tenta acompanhar o mundo. Mas na verdade, é um estado doentio que não te deixa atingir aquilo que entendes por felicidade, aquela felicidade que imaginas como é. Não é que não sejas feliz, mas serias mesmo feliz se... e é esta a merda de mentalidade que tantas vezes me deprime.
E por mais que tente mudar, sinto que não consigo fugir deste caminho. Por isso continuo mesquinhamente a sonhar e a imaginar. Tem que ser... preciso disso para viver na vida real.

A tenda

Sentes os pulmões a queimar enquanto dás uma passa com toda a convicção de quem sabe o que quer. Depois o fumo sai da tua boca e apodera-se de todo o espaço livre dentro da tenda.
Encostas a cabeça à almofada e vem aquela sensação...
Insistes, e insistes de novo. Até te sentires desprovido de alma, sem capacidade para pensar, mexer ou sequer dizer. Não és nada mais do que um coração a bater e uns pulmões a doer.
E depois voltas lentamente à terra, inteiras-te da tua existência e sentes aquele prazer...
Sim, eu sei! Não o vou tentar descrever.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Físico / Psicológico

Dou voltas e voltas no lençol. Sinto-me mal!
Amanhã quando acordar será um dia tão vazio como o de hoje. Mas não deixo de estar impaciente.
O futuro mais escuro que este quarto. Não há uma réstia de luz que me indique o caminho.
As ideias tropeçam-me na cabeça sem que consiga fazer delas projectos.
Doi-me o corpo. Sinto-me mal. O coração bate aceleradamente mas o sangue não me aquece os pés gelados. Também o sinto bater na minha cabeça.
E amanhã? Sem dinheiro, sem trabalho, sem objectivos e sem vontade. Vou acordar novamente há espera da chamada que muda a minha vida. Mas dia após dia a esperança desaparece às quatro da tarde. O telemóvel não toca, e o resto do dia repete-se na mesma cadeira do mesmo café, cerveja após cerveja.
Vem a noite. Janto novamente sem apetite. Fumo até deixar de conseguir raciocinar. Deito-me.
Dou voltas e voltas no lençol. Sinto-me mal!

(re)encontros


O telemóvel toca... é o teu nome no ecrã!
Hesito, não sei se devo atender. Há meses que não falamos.
Num impulso o dedo carrega no botão... a tua voz.

Olá!

Resolveste ligar porque vais passar perto da minha casa.

Talvez um cafezinho?

Não sei o que fazer, pergunto-te onde estás, enquanto tento pensar.
Atravesso a estrada, olho para o lado na passadeira... és tu! No carro...
Fico estático, a chamada desliga-se, os carros apitam, eu entro.

O que é que aconteceu aqui?
Não sei, mas estou toda arrepiada!

Acordas nua, sozinha. Há um papel na mesa de cabeceira.

Tenho medo do que poderia acontecer à minha vida se ficasse contigo.
Desculpa, mas não tenho coragem.



Segundos

A chuva cai lentamente. O limpa para-brisas cumpre a sua função com uma preguiça contagiante.
Desfaço a curva, o carro foge... um carro em sentido contrário. Pânico!

5 segundos eternos... o carro passa, eu paro nem sei bem onde.
Estou vivo? Sim estou vivo. Não sinto as pernas... o corpo treme.

Ainda não sei porquê, mas estou vivo.

Biblô


Desculpa, mas há momentos em que é difícil ser sempre a tua última prioridade. Não te quero atrapalhar, nem quero que deixes os teus objectivos por minha causa. Bem sei que não tens culpa... talvez seja eu que preciso demasiado de ti.
Mas não me peças, por favor, para continuar a ocupar o lugar de biblô na tua vida. Chega... preciso de mais.
Vou desaparecer durante uns dias. O tempo vai passar, e eu vou esperar que a saudade faça alguma coisa por nós.
Quando me quiseres diz alguma coisa, eu não devo estar ocupado.