sábado, 26 de janeiro de 2008

Cão sem dono!


Nasceu numa pequena aldeia da Beira Alta no tempo das flores. O Inverno frio passou-o na barriga da sua mãe Pitucha. Cresceu nos campos, correu atrás de tudo quanto era bicho mais pequeno, fez-se cão entre as ruas da aldeia, no meio de lutas e combates pela cadela que o dono não percebeu estar com o cio.
Fui eu quem o levou para casa no dia em que se separou da sua mãe. Não foi uma tarefa fácil, mas no fundo eu poderia-lhe dar um futuro melhor do que a Pitucha. Adoptou-me desde logo como dono, embora quem o fosse na verdade eram os meus avós. Ao fim de uma semana , passada entre todos os mimos e partilhando a mesma cama, a primeira separação. Não era maior do que a minha mão.
A partir desse momento a nossa relação ficou restringida aos fins de semana a cada 15 dias, até ao momento em que chegavam as férias da faculdade, nos quais não nos largávamos um minuto. Só me obedecia a mim, íamos juntos ao café da aldeia, passávamos tardes no campo, viamos televisão, partilhávamos o calor da lareira... foi assim durante dois anos. Não era mau cão para quem lhe dava todos os dias de comer, mas na minha presença esquecia os seus verdadeiros donos.
Mais tarde, com a vinda dos meus avós para casa dos meus pais em Lisboa, também ele mudou de terra. Não era a primeira vez que vinha a Lisboa. Já lá tinha estado por duas ou três ocasiões, mas sempre de visita. Nunca me vou esquecer dos primeiros passeios pelas ruas da cidade, agarrado a uma trela que se enrolava em tudo quanto era poste. O primeiro autocarro que viu deixou-o abismado com o seu tamanho.
Apesar dos meus esforços para também ele ter lugar em casa dos meus pais, quis o destino leva-lo para casa do meu irmão, a qual dispunha de um grande jardim, e portanto melhores condições para ele.
Agora é lá que vive. Já tem filhos, um deles, o Acácio, também ficou por lá, e é agora a sua companhia. Visito-o com alguma frequência, e de tempos a tempos vêm passar uns dias a minha casa. Nunca se esquece de mim, fica sempre eufórico com a minha chegada e tenta sempre entrar às escondidas no carro, na esperança de vir comigo.
Hoje vim passear com ele e com o Acácio para perto do Parque Tejo para poderem andar à solta durante a tarde. Enquanto o Acácio está aqui ao meu lado a fazer-me companhia, ele desapareceu atrás dos ratos que fogem por entre as ervas. Estou a chamá-lo há tempo suficiente para me lembrar de escrever um texto sobre ele, para o escrever e sabe-se lá o que vou fazer a seguir. Chama-se Bidó, e ninguém é o seu dono.

1 comentário:

Anónimo disse...

Existe aquela musica que é "Jolim és o cão da malta", e a tua versão é mais Bidó :D